Conheci um homem solitário que esgueirava-se pela rua, olhando os pés enquanto andava. Parecia andar sempre preocupado, e de fato estava. Tinha um olhar distante e melancólico, suas roupas estavam alinhadas como quem espera encontrar-se com alguém. Disse-me que sempre esteve só, mesmo quando não o estava, que assim havia vindo ao mundo e assim havia de deixá-lo. Não era triste por isso, já que acompanhado de si mesmo suas ideias fluíam com clareza, e só assim, poderia ser ele mesmo.
Disse-me que pensava no tempo, que não gostava desse velho algoz, e que na vida não temia muitas coisas. A morte, essa não tomava parte em suas preocupações, a reconhecia como alguém que espreita, e, por não poder tirar-lhe o que já viveu, não a temia. Pareceu-me um tanto controverso, e demasiado confuso, não sabia aonde ir e não fazia menção de encontrar caminho algum. Parecia estar andando em círculos atrás de seus próprios rastros, mesmo sabendo que daria em lugar algum. Por outro lado tinha a convicção de estar no caminho certo, tinha um olhar nobre e vivo, que só tem quem desconfia e busca incansavelmente por algo.
Conversamos por horas, e afirmou-me com certeza, que boa parte de nossos esforços são vãos, que o que buscamos nunca encontraremos, e que passamos mais tempo cultuando o desconhecido que vivendo realmente. Que viver é sentir tudo o que puder ser sentido, bom ou ruim, aí está a grandeza da alma. Sentir dor e alegria, sangrar e sorrir. Era isso que esperava para si, apenas sentir e nada buscar, essa era sua luta. Porque quem anseia não vive, espera.